O que pensa um estudante de Filosofia em Portugal?

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quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Alvitres para fazer uma licenciatura em filosofia sem dificuldades

Uma pequena advertência:
O que irá ser exposto aqui, é um mero exercício satírico e filosófico. O Filósofo Diógenes não está directa ou indirectamente ligado a este projecto. Qualquer personagem ou situação tem que ser entendida como mera causalidade.
Bem - Vindos!
Quando estiverem indecisos (ou não) em qual a universidade que irão estudar filosofia, mandem um email a cada director da licenciatura a perguntar-lhe porque é que o curso naquela universidade é melhor que as outras. Se ele responder, já é um óptimo principio, e aí, deixem-se convencer pelas respostas, a melhor resposta ganha, porque é isso que vão fazer durante 3 anos, é deixarem-se convencer pelas melhores respostas.
Depois de entrarem na universidade, escolham um grupo porreiro e formem um núcleo de estudantes. Esta será a única forma de entrarem no sistema, usando a força do grupo. Mas se a universidade já possuir um núcleo melhor ainda.
Não confundam a matéria dada nas aulas com o professor. Isto dará muito jeito, na medida em que podem encontrar professores muito mesquinhos e por conseguinte a matéria irá soar mal e o vosso rendimento baixar. Por isso, respirem fundo, falem pouco nas aulas dele e plagiem o máximo que conseguirem.
O plágio académico só é válido quando o professor é desinteressante. Nestes casos não vale a pena perder muito tempo no estudo.
As cábulas dos testes só são válidas no primeiro ano da faculdade. Depois disso torna-mo-nos desonestos intelectuais.
Cuidado com todos os didactas franceses. Todos eles são como Napoleão, adoram proclamar-se imperadores de qualquer coisa.
Só podes suspeitar intelectualmente de um professor, se tiveres tido mais do que um semestre com ele, e para isso não podes suspeitar sozinho. O núcleo tem que ser unânime nessa suspeita. No entanto, suspeitar de qualquer coisa é uma verdadeira perda de tempo.
Lê muito e variado.
Dá máxima atenção aos pensadores da antiguidade e também aos medievais. Porque filosofavam enquanto pessoas e não como Deuses.
Se não forem muito aplicados nos estudos, mas até gostarem do espírito filosófico, e tiverem dificuldades nalgumas disciplinas, não se preocupem, apliquem-se ao máximo naquelas em que se sentem melhor. Um bom aprendiz de filosofia refugia-se na tecnicidade para ofuscar a ignorância total, porque só assim, é que não são acusados de ter uma licenciatura em filosofia sem filosofia. Nalguma área da filosofia podes ser bom. É como os médicos. Há especialistas para qualquer parte do corpo.

terça-feira, 23 de novembro de 2010

A Educação e a Humanidade. A Razão como Ideal Regulador

Só existe Humanidade quando existe educação. Esta última é indissociável da outra. É uma simbiose.
O processo de humanização é também ele geracional, isto é, conservamos a humanidade através da educação. Neste processo o Homem faz o Homem. Todo o Homem é contido na educação. Isto é importante porque neste processo, ou metamorfose, toda a Humanidade transforma-se à medida da sua construção. É na Razão que está focada toda a atenção deste processo de conservação e inovação geracional da humanidade.
"A Razão é o poder de estender as regras e os designios que presidem ao uso de todas as suas forças muito alem do instinto natural, e seus projectos não conhecem limites." (Kant)
A Razão não é uma coisa instintiva. Não resulta de uma natureza biológica. Sobrepõe-se à própria vida, isto é, ir além do natural, do homem natural. A razão é assim, uma capacidade supra natural. E Porquê? Só assim, é que conseguimos criar projectos. Ser racional é ter uma mente aberta, ter projectos ilimitados.
A Razão não age instintivamente. Ela precisa de provar-se, exercitar-se, instruir-se para evoluir numa maneira continua.
Com a educação a Razão aumenta, Eleva-se.
A ideia de Homem é uma representação genérica de humanidade. Este ideal regulador deve servir e definir a humanidade.
A natureza quer que o Homem retire de si mesmo tudo aquilo que ultrapassa o agenciamento mecânico da sua existência animal e que não participe de nenhuma felicidade ou perfeição a não ser aquela que ela se criou para si mesma independentemente do instinto da sua própria razão. Só assim, o Homem tem capacidade de determinar a sua felicidade ou perfeição.

"Pensai por vós mesmos"


Pensai por vós mesmos. Esta premissa é o maior desafio que toda a humanidade se depara. O acto de pensar, é por si só, um acto de liberdade. Pensar, reflectir, insinuar, desejar são modelos que nos indicam se somos ou não um –Ser Humano. Isto é exclusivo. Se há coisas que nos tornam especiais de todo o resto, que nos distinguem de um pessegueiro, é pelo facto de que temos a exclusividade do pensamento, ou seja, deixamos de ser coisas e passamos a ser pensantes. Quem pensa, está no maior e mais exclusivo grupo de todos. Vamos então analisar o que é isto do “pensai por vós mesmos”. Será uma actividade boa? Ou algo que nos pode atrapalhar a vida?
Primeira Parte:
Se fizermos um pequeno exercício mental e olharmos à nossa volta, iremos perceber que as grandes invenções foram lutas internas (ego) e externas, entre uma ideia e um ideal.
Quase todos os produtos são exemplos do “pensai por vós mesmos”. Podemos então afirmar que possível e saudável seguir o nosso pensamento.
Este acto de criação não é exclusivo só de certos meios sociais. Tal como foi referido anteriormente; o acto de pensar é exclusivamente humano. Já imaginaram o trabalhão e as confusões que levaram à invenção da lâmpada? E a Internet? O Micro ondas e o automóvel? Tudo isto não é mais do que o maior paradigma da nossa civilização, “Pensai por vós mesmos” porque só assim é que é possível melhorar o nosso habitat.
Então, porque levanta tanta confusão e especulação o valor do conselho –“Pensai por vós mesmos”, mesmo que, como já vimos anteriormente, pode ser benéfico para a nossa vida?
Ora, este paradigma entra em contradição com os domínios comuns dos costumes. E Porquê?
Segunda Parte:
Primeiro: A crença em instituições humanas (politica, direito e justiça) é vulnerável. Dentro destas características, o Ser – Humano não pode fugir ao consolo social. Se reflectirmos o Ser como um Ser social e que vive só no social, é indubitável que se criem normas. Ficamos assim, perante uma vida normativa.
No entanto, estas normas são importantes para a manutenção geral, mas que limitam o Ser a ter uma conduta livre e por conseguinte a ter um pensamento condicionado. O Ser é por si só um indeterminado e necessita de pensar nas coisas à sua maneira. Só podemos pensar por nós mesmos se for para contribuir para uma melhoria do sistema. Mas isto pode trazer problemas. Esta forma de pensar sistemática contrai a disseminação do indivíduo. Esta falta de identidade sistemática é um bem necessário para a preservação de um sistema. Kafka entendeu isto de forma brilhante a quando a sua obra O Processo, mas também não dissolveu o problema, simplesmente o explicou e aqui ele pensou por si só e pensou bem. É nesta virtuosidade individual que nasce a vontade. Kant concebe a vontade como “a faculdade de se determinar a si mesmo a agir em conformidade com certas leis”. Aplica-se aos seres racionais e o que serve de princípio objectivo à sua auto-determinação é o fim, que, uma vez dado só pela razão tem de ser válido para todos. Já o contrário, a possibilidade da acção, pese embora ter como efeito um fim, não passa de um meio.
Conclusão:
Se pensar por nós mesmos for: possuir um bom espírito crítico e ser construtivo, então é bom pensar por nós mesmos. Mas se por alguma razão isto for contra o bem comum, então é melhor não pensar muito e deixar-nos levar pelo rebanho. O João fugiu da prisão. O João pensou por ele mesmo, mas pensou mal. Pensar é um exercício único, mas que deve obedecer a um conjunto de interesses, estes interesses têm um nome, verdades. O que são verdades? Pensai por vós mesmos.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

UBI - Colóquio Internacional «Emergência e Autonomia do Político, 25-26 Novembro 2010


Colóquio Internacional «Emergência e Autonomia do Político (Tardo-Medievo e na Proto-Modernidade)» no âmbito do IPF - Instituto de Filosofia Prática da Universidade da Beira Interior – Covilhã, nos dias 25 e 26 de Novembro

― Programa 

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Arte e Produção artistica

Há uma unidade entre a produção natural e a produção técnica. A arte é a produção de algo não natural, mas que prolonga a criatividade da própría natureza. O que quer dizer isto? Basta imaginarmos uma prótese.
A arte na antiguidade é baseada em modelos. O mundo dos gregos é finito, por isso, disponibiliza um número limitado de formas. É esta a condição dos antigos gregos. Copiar o que já existe. Podemos mesmo afirmar que existe um carácter em que, tanto na arte como no ensino é a reprodução que manda. Só assim, é que o sistema sobrevive. No mundo antigo, o dos gregos, a imitação é o mais comum. 
Se a natureza cria frutos/coisas que por sua vez é ilimitado. Um Castanheiro cria todos os anos durante toda a sua vida castanhas, ao contrário do homem que só consegue criar artefactos (limitado). Quando o Homem produz algo, nomeadamente a educação das pessoas, ele nada mais faz que imitar a natureza. O técnico faz coisas sob o modelo natural. Aquilo que o Homem faz é um produto simbólico da natureza. Para Platão / Aristóteles é uma aberração lógica, criar algo do nada. Para os Antigos Gregos, o acto de produção é um acto de transformação.
Se nos gregos tínhamos a imitação, na época medieval o paradigma é todo ele divino. Porquê? Porque só Deus pode criar, isto porque Ele é o criador. Com isto a criatura que é o Homem não poderá produzir nada através do nada,o que faz com que a maioria da produção artística seja ela ícone do divino. O mundo da criação, tanto para os antigos, como para os medievais é finito.
A Arte Moderna é o abandono de todos os paradigmas que foram referidos anteriormente. Aqui, o Homem já consegue ter uma produção individualizada. O Homem parte para a arte através do nada. É a livre produção que impera. Para os Modernos, a arte abandona a natureza. É uma criação sem modelos naturais, o exemplo disso é a arte abstracta. Põe-se uma questão com esta modernidade que é: "Temos a autonomia, mas o que fazemos com ela?" Segundo Nietzsche, - a Arte é a actividade metafísica desta vida. Para Feuerback a arte moderna é uma espécie de liquidação da religião.

Didáctica da Filosofia I - Ícones da Filosofia

Meu Deus... Hoje levei uma rabecada  do Professor Joaquim Vicente. Tudo isto por causa de ícones da filosofia. O facto de toda a gente apresentar o Pensador de Rodin como o ícone da Filosofia é mais do que suficiente para me irritar e criar uma agonia profunda no meu dasein. Ora, existe mais mundo que Rodin e para isso basta estarmos atentos ao que nos rodeia. Podíamos até dizer que uma formiga é o exemplo da filosofia, para isso basta argumentar as premissas exactas. No entanto, o professor Vicente foi mais longe e apresentou duas imagens. A Alegoria da Caverna (esta é outra que já me começa a irritar) e a segunda (para minha surpresa) o Jean Paul Sartre em plena manifestação junto dos trabalhadores em Paris. Como manda a lei, eu defendi que a imagem do Sartre é a que mais se adequa à imagem do filósofo contemporâneo e por conseguinte à da filosofia. Isto porque, o filósofo deve estar presente no reboliço da -acção humana-, e não o contrário. Isto levantou alguma controvérsia (ainda estou para perceber porquê). A imagem da alegoria da caverna é dualista. Platão apresenta o Homem numa caverna em que é iludido pelas sombras. Esta metáfora é tão actual, que prova disso é a sua universalidade. Porém, defendi a mesma posição, achando que de facto, a filosofia deve ser a luz (metafóricamente falando) que orienta o Ser Humano através das suas nobres capacidades, como a reflexão dos campos da ética, politica, lógica etc etc. A Filosofia é este conjunto de disciplinas que servem para estruturar o pensamento e orientá-lo nas mais diversas situações.  Na imagem de Sartre está incutido todo o espírito que as tais disciplinas filosóficas nos ensinam ou preparam. É claro que depois surgi-me com a analogia da caverna com a actualidade dos filósofos, aquando um colega explicou que o filósofo deve recolher à caverna para reflectir. Argumento este que declinei, provocando uma reacção extrema na turma. Portugal está cheio de Filósofos da caverna, ou seja, Filósofos de gabinete. Esta tendência é uma prática comum nos senhores maiores de idade que pensam comandar a filosofia.

domingo, 17 de outubro de 2010

Já não me lembro do tempo em que estudar era importante...

Houve um tempo em que estudar era preciso para o desenvolvimento de uma nação. A -era da industrialização permitia a quem tinha possibilidades (refiro-me a questões monetárias e não intelectuais) estudar para se formar. Havia necessidade de engenheiros, enfermeiros, cientistas e investigadores nas diversas áreas cientificas, isto porque as empresas não possuíam mão de obra técnica. Esta necessidade fez com que a Escola se torna-se a longo prazo pública, visto que os abastados escasseavam e esta foi a opção mais razoável para encontrar talentos para os postos de trabalho em falta. O grande problema desta opção, é que tudo tinha que ser feito à pressa (time is money) e isto provoca um efeito devastador na industria. Por exemplo: Portugal precisa de médicos; então vamos formar médicos com fartura, e assim por adiante, quem diz médicos, diz enfermeiros, advogados, engenheiros, etc etc... Na época da industrialização tudo era permitido para ensinar. Não era necessário ter as exigências académicas que hoje temos que ter para ensinar, ou seja, não havia tradição académica. O grande mal dos tempos actuais, é que continuamos, como se em fornalha se trata-se, a formar profissões, o sistema é o mesmo desde o inicio da república. Formamos profissionais (alguns duvidosos) em vez de formarmos pessoas  com personalidade e carácter. Os modelos de ensino devem ser revistos para fomentar o espírito criativo individual, onde isto permitirá ter acesso livre ao conhecimento e não a um sistema redutivo e mecanicista onde o objectivo final de uma formação académica é ter um emprego pelo qual não favorece em nada a liberdade  humana. Em suma: Que utilidade tem um desempregado para uma nação? Como se sente um desempregado? Porque é que está desempregado? Se uma pessoa é formada para fazer uma coisa que já não existe, então porque continua o estado a incentivar? Não me é estranho ver jovens licenciados no desemprego, a culpa não é deles, a culpa é de quem continua a iludir todo este "sistema". O papel da educação está para Portugal como a liberdade na Coreia do Norte.
 
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